Hoje capturei uma rainha da espécie Odontomachus, conhecida como formiga de clique ou trap-jaw ant.
Dados da captura
10/05/2018
Horário aproximado: 13h.
Local: Ela estava perambulando próximo ao caminho que liga o refeitório ao prédio 8, no campus Xerem do Inmetro.
Provisoriamente acondicionei em um pedaço de papel ofício dobrado, de forma a poder carregar sem ser picado ou que ela escapasse.
Em casa, montei os tubos de ensaio com água, para esta rainha e mais outras três da espécie Solenopsis que também foram capturadas depois do voo de núpcias.
Esta é a montagem dos tubos de ensaio:
A rainha ficou de 18h às 22h no escuro e quando fui fotografá-la, vi que as asas já estavam soltas.
A posição preferida é em cima do algodão molhado ou próxima dele. As solenopsis preferem ficar sobre o algodão seco.
Alimentação
11/05/2018
Sabendo que a Odontomachus têm comportamento semi claustral e que precisa se alimentar antes da postura de ovos, tentei identificar um alimento que a agradasse.
Adicionei em um pedaço de papel alumínio algumas guloseimas: mel e tatuzinhos de jardim.
Apesar de se aproximar, não houve interesse no jantar. Tentei outra alternativa, adicionando um pouco de mel misturado com água (1 parte de mel : 1 parte de água). Desta vez, além de se aproximar ela conseguiu se alimentar.
Dia das mães (Primeira postura de ovos)
13/05/2018
Hoje pela manhã fiz uma inspeção visual, ainda com o tubo de ensaio no armário, pra saber se ainda permanecia viva.
Enfim, consegui enxergar um pequeno ponto amarelado, que poderia ser confundido com fezes, afinal ela comeu mel dias atrás.
Nada disso, grata surpresa! É a sua primeira postura.
Com ajuda da lente de aumento, consegui ver que era seu primeiro ovo. Ela fica praticamente sobre ele, de guarda.
Então, resolvi preparar um novo abrigo para que ela possa andar pela forragem e buscar alimento e assim produzir novos ovos.
Nova moradia
Existem várias alternativas para esta fase inicial do ninho. De qualquer forma o acesso a um espaço exterior é necessário para a espécie Odontomachus.
O material que pretendo utilizar é o AAC (concreto aerado e autoclavado). No entanto, é preciso um tempo de planejamento para desenhar e executar as trincheiras que simulam o interior de um ninho.
A primeira tentativa será do modo mais fácil. Apenas cobrirei o tubo de ensaio com areia úmida e algumas pedras. Deixar a entrada livre para facilitar o acesso de alimentos maiores.
- encontrar um recipiente para acomodar o tubo de ensaio;
- abrir uma entrada para auxiliar a visualização e alimentação;
- preparar uma armadilha na tampa, para evitar fugas das formigas;
- lavar a areia e retirar impurezas;
- autoclavar a areia para matar micro organismos;
- montar o terrário.
Primeiro passo:
O menor recipiente que consegui encontrar para acomodar o tubo de ensaio onde a rainha já fez a sua primeira postura.
Segundo passo:
Para visualizar o terrário e facilitar o acesso da alimentação, abri uma janela na tampa.
Com um estilete afiado fiz o corte inicial e aparei as rebarbas com uma lâmina.
Descartei o uso de lixa, pois o plástico estava muito macio.
Terceiro passo:
Para que as formigas não escapem é necessário cobrir as paredes da tampa, pelo lado interno, com uma substância que retire o atrito e não deixe-as se agarrarem.
Utilizei uma fina camada de óleo de silicone d1000 com ajuda de um cotonete.
Depois de coberta a superfície polvilhei uma camada de talco para que ficasse ainda mais escorregadia.
Quarto passo:
Lavar a areia em água corrente, para retirar ao máximo as sujidades.
Lembrando que utilizei areia “lavada” de construção civil.
Quinto passo:
Cozinhar a areia no forno por uma hora, na temperatura de 250 ºC.
Para esfriar, espalhei sobre uma bandeja de alumínio.
Sextopasso:
A areia cobriu todo o tubo de ensaio até a abertura, onde deixei espaço para colocar a comida até que a rainha se acostume a passear na forragem.
Retirei o algodão que cobria a abertura para liberar a passagem. Agora o terrário está pronto, úmido para deixar a rainha confortável.
Alimentação nova
15/05/2018
Para a nova moradia e com a esperança de novas posturas, tentarei nova dieta para a rainha. A última vez que se alimentou apenas o mel foi bem aceito. Ainda não comeu nada de proteína.
Consegui algumas drosophilas para ela experimentar.
Coloquei sobre uma “bandeja” de isopor com o tamanho adequado para a nova entrada do ninho. Para tornar mais atrativo adicionei uma pequena gota de mel diluído em água.
Alimento rejeitado – Que tal um mais apetitoso?
16/05/2018
As drosophilas foram literalmente rejeitadas. Hoje estavam sobre a mesma bandeja de isopor com um mofo branco.
Feita a limpeza, ofereci novamente somente o mel. Enquanto isso fui a campo, no Horto Florestal perto de casa, para capturar alguns cupins.
Consegui vários cupins de colônias diferentes, que estavam em seus tubos de proteção em diversas árvores.
Para testar a aceitação do cupim pelas odontomachus, localizei uma da mesma espécie na base de uma árvore eucalipto e deixei o cupim na frente da formiga. Imediatamente ela pegou o cupim da minha pinça e saiu correndo em direção ao ninho.
Levei o tubo de ensaio com as novas guloseimas e apresentei para a rainha. Ela aceitou bem e depois de umas beliscadas com as mandíbulas, começou a comer o gaster do cupim. Os cupins foram apresentados já mortos na bandeja, pra evitar luta e briga de ácido fórmico dos soldados cupins.
alimentando-se
Passeio e arrumação do ninho
16/05/2018
Agora bem alimentada, a rainha resolveu carregar pedras para dentro do tubo de ensaio. Não é possível ver a construção que ela está preparando, fica para daqui alguns dias, quando ela estiver mais adiantada.
Segue o vídeo com o trabalho da rainha.
Bunker fórmico
17/05/2018
Ficou quase pronto o bunker com areia. A abertura para passagem é tão estreita que passa apenas a rainha. De vez em quando ela fica de guarda na entrada.
Montagem do formicário com acrílico (estilo aquarismo)
19/05/2018
Resolvi construir o formicário, utilizando o bloco AAC (concreto aerado autoclavado).
Este concreto é macio e fácil de cortar e usinar. Como todo concreto ele não resiste à tração, portanto deve-se tomar muito cuidado com pancadas e não fazer usinagens perto da borda. Nestas bordas não muita resistência.
Fiz todos os cortes com serra esquadria, para que ficassem planos. A lâmina de serra tem uma largura que permite manter a direção de corte enquanto avança.
Para corrigir as faces do bloco, utilizei a lixa 100, com a lixadeira elétrica. As guias de madeira facilitam o controle do desbaste, mantendo a dimensão dentro do desejado.
As galerias foram desenhadas diretamente nas faces do bloco. Com ajuda de uma broca de videa com 6 mm foi possível escavar com facilidade. A broca de 8 mm completou o serviço de abrir os furos maiores (poços de hidratação).
Com ajuda de uma chave fina, fiz os dutos de acesso aos poços de hidratação.
Utilizei espuma sintética (floral) para manter a água nos poços. O concreto é muito poroso e não freia o curso da água. Para adicionar água, quando necessário, estão dispostos três pontos alimentação no topo do bloco. O acesso é feito por pequenos tubos plásticos retirados de hastes de cotonete. Para evitar entupimentos cada tubo é vedado com um pedaço de palito de dentes.
O espaço livre entre a parede de acrílico e o bloco de concreto é muito pequeno, mas para evitar a queda de pequenos grãos de areia, foi instalado uma tira de manta de poliéster.
Com o sistema de hidratação pronto, agora é possível recompor o cenário com a areia e vermiculita. Coloquei também algumas pedras e até uma pequena montanha.
As galerias devem ficar escuras para que a rainha se sinta confortável para postura de ovos e cria de suas pequenas larvas. Decidi utilizar a madeira por ser um material “quente” e mais natural possível, além de fazer uma boa composição com o cenário do formicário.
A primeira montagem de um quadro no entorno das galerias utilizou pequenos sarrafos de pinus (colados e aparafusados). Uma folga entre o quadro e o acrílico facilita a retirada. Este espaço será preenchido por pequenas escovas de cerdas de poliéster.
A cobertura do quadro foi completada com folhas de madeira, formando uma composição claro/escuro. Para o acabamento final usei cera de carnaúba, que mantém a textura da madeira e a deixa impermeável, sem alterar as cores originais da madeira.
Por utilizar cola de contato, com solvente de odor forte, resolvi instalar uma cobertura para as galerias utilizando papel cartão, enquanto a cola evapora em outro ambiente para não perturbar a rainha ou intoxicá-la.



Grande Eduardo!! Parabéns pelo excelente trabalho! Na expectativa dos próximos capítulos… abraços!